Os vivos (?) e os mortos | Fernando Monteiro

 

[Poesia]

Brochura, em papel offset 120g, 60p.
Formato: 15 x 22 cm
Tiragem em gráfica de 300 exemplares
Ilustrações de Chico Díaz
 
R$: 40,00 (frete simples grátis)
Aquisição: edsolnegro@hotmail.com
 
Dando continuidade ao seu projeto poético de livros com longos poemas temáticos ("Vi uma foto de Anna Akhmátova", "Mattinata", "Museu da Noite"), Fernando Monteiro aborda neste Os vivos (?) e os mortos o abjeto aparato de perseguição e tortura da ditadura militar brasileira instaurada em 1964.
Mais especificamente, o poema gira em torno da chamada “casa da morte”, residência localizada no número 668 da rua Arthur Barbosa em Petrópolis, no Rio de Janeiro, usada por membros do regime militar para torturar e assassinar presos políticos durante os anos 1970. Centro clandestino, do qual ninguém saía vivo, sua localização e história só se tornaram conhecidas graças às denúncias da única sobrevivente entre os que foram levados ao local, a dirigente da organização VAR-Palmares Inês Etinne Romou, que foi torturada e estuprada por três meses no local antes de ser jogada, aparentemente morta, numa rua nos subúrbios do Rio (os mortos da casa eram normalmente esquartejados e enterrados nas cercanias da própria residência).
Mas, ao mesmo tempo que trata dos “mortos” da ditadura e da geração altruísta que lutou contra ela, Monteiro traz o seu poema até os dias atuais, expondo os contrastes entre aquela geração combativa e os “vivos (?)” da geração atual, passiva e enfeitiçada como Narciso pelo espelho das telas e algoritmos. O sinal de interrogação (?) depois de “vivos”, já no título do poema, coloca desde o começo a provocativa indagação que o poema não quer calar: o quão realmente vivos estão os seres humanos de hoje? Evoca, assim, nesse (des)encontro entre vivos e mortos, o país atual onde troam e repercutem os discursos e atos de ódio, os linchamentos virtuais, o ressentimento e o delírio generalizados. Num momento em que se defende abertamente a tortura, e o autoritarismo e o obscurantismo tomaram a administração pública, o poema de Monteiro afirma com todas as letras que tortura é horror e absoluto fracasso humano e civilizatório, que perseguição realizado pelo Estado é terrorismo, e que todo obscurantismo é inaceitável. E o faz sem nenhuma espécie de propagandismo ideológico ou alinhamento partidário, mas num poema de cuidadosa fatura estética. Demonstra que é preciso resistir e persistir inabalavelmente na dura tentativa de “escrever versos para os vivos / que não estejam mortos”.

Márcio Simões
 
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